Existem laços afetivos e parcerias de vida no clã familiar. Os avós, pais, tios, irmãos e primos, fazem o mundo, no qual, o indivíduo deste clã se sente aceito com sentimentos de pertença. Esta inserção se manifesta ampla na infância, menor na adolescência, pequena na juventude e quase nula na velhice. Com os anos, a referência familiar vai-se enfraquecendo. Se não existir uma recolocação de pessoas, grupos de convivência, no lugar dos familiares que irão morrendo, o bloco familiar adelgaçará, isolando o indivíduo, tornando-o amargo e estressado.
A frondosa árvore dos afetos domésticos, com o tempo se esvai; perde os galhos mais velhos e se liberta dos mais enfraquecidos, até murchar a copada. Então, pode cair, se não for escorada!
O candelabro relacional é feito de muitas velas acesas, que irão se apagando, uma depois da outra, até extinguir a última luminária. Este processo pode desestimular a convivência dos existentes, até o isolamento assassino, que mata mais que a idade ou se torna uma dolorosa morbidez. Se as velas consumidas não forem substituídas, a escuridão será total e fúnebre.
Quando a vida é exuberante, os lugares, onde residem os parentes próximos, se tornam iluminados e irão se esmaecendo, na proporção das perdas.
Fui visitar minha irmã com idade beirando os cem anos. É a matriarca dos que compunham meu clã familiar, hoje reduzido pela foice da morte. Os laços que frouxaram, precisam ser arrochados. Pela visita, a chama do amor familiar se anima como os tições mexidos na lareira. A visita reconstrói as paredes caídas do edifício dos afetos, restaurando a beleza inicial, substituindo os tijolas quebrados por outros que fechem os vazios e completem a elegância da estrutura restaurada.
Na idade que estou: olhando para os asilos, casas de repouso, idosos ignorados pelos familiares, me vem à mente a necessidade, mais que uma filosofia de vida, um amor-caridade que premeie os construtores do passado, cujo atual progresso usufruímos. Sei que Deus quer isso!